
No ano em que a teoria da selecção natural de Darwin (em conjunto com a carta de Wallace) foi apresentada na Sociedade Lineana de Londres, o entusiasmo provocado na comunidade científica foi zero. Ao ponto de o próprio presidente da sociedade ter escrito no anuário desse ano a seguinte frase: “Este foi um daqueles anos em que nada que muda a ciência aconteceu.” Uma das explicações históricas encontrada recentemente pelos investigadores para esta falta de entusiasmo foi o facto de, antes de se apresentarem as duas cartas de Darwin e Wallace, ter estado a discursar um cientista alemão de nome Welwitsch – que tem um dos maiores herbários de espécies africanas (grande parte está cá em Portugal). Uma comunicação muito longa e chata não terá contribuído para o entusiasmo da plateia.
Dos fracos não reza a História e depois desta gaffe é certo que o nome do presidente da sociedade Lineana não consta na lista dos grandes nomes do século. Passados 150 anos, a teoria da evolução das espécies de Darwin continua a ser essencial para toda a biologia. Segundo José Feijó, comissário da exposição “A Evolução de Darwin” que agora inaugura na Fundação Calouste Gulbenkian, “a teoria de Darwin é o denominador comum de todas as áreas da biologia.
É aquilo que explica um resultado inesperado que não sabemos explicar.” A exposição concebida em parte pela Fundação e por outros dois módulos vindos do Museu Americano de História Natural é, em termos de área coberta, de percurso expositivo, número de objectos expostos, cobertura conceptual e histórica, número de pontos interactivos, a maior exposição do mundo sobre Darwin e a evolução.
A exposição traça o percurso biográfico de Darwin, passando pelos momentos mais marcantes da sua vida como a juventude, a viagem a bordo do Beagle onde terá formulado pela primeira vez o mecanismo da selecção natural, o período de 20 anos em que viveu em Londres e consolidou a sua carreira, abrindo caminho para apresentar a sua teoria, sem nunca esquecer a contextualização histórica nos séculos XVII e XVIII, antes do nascimento de Darwin.
A viagem no Beagle vai estar representada por recriações de habitats de plantas e animais, como as tartarugas das Galápagos, as emas do Norte e do Sul, os fósseis de tatus da autoria do Jardim Zoológico. A parte dedicada a Londres é feita com base em réplicas de documentos originais – diários, correspondência, livros de notas – que provam como e quando é que ele chegou à ideia para a Teoria. O único objecto original pertencente a Darwin é o seu primeiro livro de notas da viagem no Beagle.
“Esta é uma exposição para jovens dos 7 aos 77 anos, como a revista do Tintim”, brinca o comissário. “Há motivos de interesse para todas as pessoas, muito pontos de interactividade, imagem expositiva clara para jovens e depois há outros módulos, nomeadamente de interacção entre a arte e a ciência, que serão para um público com um conhecimento mais especializado.” Para além dos muitos objectos que esta mostra traz ao público português, José Feijó frisa que outro aspecto fascinante é a abundância de histórias. A começar por Darwin, que sempre foi mau aluno e até aos 18 anos andou a viver a vida e a caçar, “todas as personagens que faziam ciência nos séculos XVIII e XIX eram, como se diz em linguagem corrente, uns cromos. E eram pessoas realmente interessadas, com uma cultura e uma enorme capacidade de discussão filosófica, que infelizmente já não se encontra nos dias de hoje ”. Todos eles têm histórias pessoais incríveis e algumas delas são contadas na exposição.
Ainda antes de inaugurar, esta exposição já era muito cobiçada, daí que depois de Maio siga para o Museu Nacional de Ciências Naturais, em Madrid. Em Janeiro de 2010 será exibida noutra grande cidade espanhola e depois talvez regresse a outra cidade portuguesa antes de ir definitivamente para um museu que será criado em Oeiras. Mais evolução do que esta é impossível.
A exposição “A Evolução de Darwin” abre ao público na sexta-feira e fica até ao final de Maio na Galeria de Exposições temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian. Terça a domingo, das 10.00 às 18.00. Bilhete: 4 euros.
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